terça-feira, 26 de julho de 2011

Sementes

Caminho com dificuldade. Não devido às pedras e os espinhos que encontro na estrada. Mas devido ao grande volume que se encontra em meus bolsos. São sementes. Muitas sementes! Todas trazidas lá do Celeiro, onde há sacas e mais sacas de sementes. Uma fonte inesgotável de sementes. Uma riqueza sem fim!

Constantemente vou lá. Encho os meus bolsos e saio por aí, a semear. É a minha função. Minha missão. Carrego tanto os bolsos que fico assim, cambaleante, lento. E à medida que vou andando, vou lançando-as nos campos, uma a uma.

E são sementes de todos os tipos. Não as escolho. Algumas se tornam poemas, que crescem, crescem e tomam toda uma folha de caderno. Outras, de tão poéticas, não se contentam apenas com folhas de papel e ganham os ares. Tornam-se músicas. E embora seja redundante, é bom frisar que se tornam músicas com poesia! É, tem que ter poesia. Música sem poesia é como pirão sem farinha, não passa de caldo! E caldo sem tempero. Água e sal, como uma bolacha, que só enche bucho, não alimenta! Encher ouvidos não basta! Tem que preencher corações! Outras, levadas pelo vento aos mais distantes palcos, tomam forma e tornam-se esquetes, peças. São sementes teatrais que encantam, antes, os corações dos divinos artistas, para depois encantar os corações espectadores.

Há também aquelas que não foram semeadas, infelizmente. Talentos enterrados nos bolsos do esquecimento e do desleixo. Secaram com o tempo. Somos falhos. Uma ou outra se perde. E o mais duro é saber que um ou outro coração também pode perder-se porque não recebeu aquela determinada semente. Mas não devemos desanimar. Devemos aprender com os erros e confiar na Misericórdia do Dono do Celeiro.

E quando as sementes findam e os bolsos estão vazios, ah, agora sim! Posso correr livremente! Mas não corro! Não nasci para ficar correndo por aí! Dirijo-me ao Celeiro em busca de novos grãos. E já estou precisando de um novo uniforme de trabalho, com bolsos maiores. Há muitos poemas para escrever, muitas músicas para criar, muitas peças para formar, muitos campos para plantar, muitos corações a alcançar.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Revolução

Chegou a hora! Vamos começar a Revolução! Convoco todos os soldados a tomarem suas armas: lápis, papéis, tintas, telas, vozes, instrumentos musicais, malabares, perucas, narizes, maquiagens, figurinos e esquetes. E não esqueçam o arsenal principal, pois a revolução é mundial e irá atingir o nível nuclear, secular: Missa, Adoração, Bíblia, terço, confissão! Joelho no chão! Revolução nuclear para alcançar o núcleo dos corações empedernidos.

Vamos invadir os palcos, tão cheios de estrelas e vazios de Arte. Vamos renovar os discos, tão cheios de músicas e vazios de Música. E falando em música, queridos músicos, vamos arranjar meios de criar novos arranjos. Chega dos desarranjos auditivos, das diarréias sonoras! Chega das mesmas letras! Há tantas no alfabeto! Caros poetas e letristas, Jesus não rima apenas com Cruz, com Luz. Basta de rimas pobres! Poema tem que ter poesia, senão é só mais um texto! Jesus rima com tanta coisa! Jesus rima com Arte! Dançarinos, menos corpo, mais Espírito!

Circenses, é hora de rasgar as velhas empanadas! É hora de se deixarem molhar pela chuva de Graças que não cessa de cair!

Malabaristas e equilibristas, chega de andanças na corda bamba! Chega de desequilíbrios! O bom mesmo é seguir em frente, andando em linha reta. Chega de olhar para baixo. Olhem para o Alto! Busquem o Alto! Não fiquem balançando da direita para a esquerda, da esquerda para a direita. O caminho que leva ao Céu é estreito, mas é reto. Lancem para cima, junto com os malabares, todas as suas preocupações, tristezas e angústias. E caso venha a cair algo no chão, não se desesperem. Há sempre uma nova chance! Um novo picadeiro, um novo público! Respeitável público! E pirofagia só fica bonito quando o fogo vem de dentro, literalmente! Fogo do Batismo! Línguas de fogo!

Trapezistas, subam, subam o mais alto que puderem! Corda, tecido, não importa! Quanto mais alto, mais lindo fica o show! Mais linda fica a Vida! Vida em abundância!

Ah, e quanto a vocês, Palhaços? Haverá ofício mais nobre do que o vosso? O de fazer Graça? Divina missão! Acho que Jesus voltará como um de vós! Se é que já não anda por aí, arrancando as mais libertadoras gargalhadas!

Povo do Teatro, salve, salve! Chega de astros e estrelas! Não somos astrólogos! Energia positiva só na tomada! E cuidado com o choque! Energia boa é a que vem lá de cima. E quebrem a perna: da soberba, do egocentrismo, do orgulho!

Vamos fazer como o nosso Criador, o Artista Mor! Vamos pintar o sete em sete dias e criar um mundo novo, repleto de Arte e de Amor. E para isso, vamos abrir o tão esquecido Baú de Criatividades, chamado Espírito Santo, com o auxílio, o Louvor e a Alegria de Maria, que é a maior de todas as coadjuvantes, protagonista do maior de todos os esquetes que o mundo já viu: A Salvação. E vamos à Revolução!

sábado, 23 de julho de 2011

Encontro


Na ânsia do Divino Encontro,
alcanço o desencontro
e me canso porque não encontro
Aquele que me encontrou.

E encontrado sem encontrar,
não encontro meios de encontrar,
pois procuro, nos desencontros,
o que se encontra no meu amar.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Saudade

Encontrei numa velha gaveta, uma velha palavra chamada "Saudade". E que dor no peito este achado me deu! Eu e a minha velha mania de procurar as velhas coisas esquecidas nas velhas gavetas! Quem me dera ter achado outra palavra: "Amizade", "Bondade", ou quem sabe a tão sonhada "Felicidade"! Revolver a gaveta das "ades" dá nisso.

Com extrema rapidez, tentei devolver a referida palavra ao seu lugar, mas já era tarde! Dei as costas a gaveta e senti saudades da "Saudade". Ela age depressa! Penetra a pele, cai na corrente sanguínea e, em milésimos de segundos, aloja-se no coração. E quem sabe se não é neste último o seu devido lugar? Acho que "Saudade" não combina com gavetas. Bem, não sei, mas me disponho a pesquisar. E para auxiliar minhas pesquisas, ando coletando "Saudades". Já tenho um frasco cheinho delas, branquinhas, inquietas, lacrimejantes. Já tenho até um local de trabalho! Chama-se "Vida". E todos os dias, neste laboratório, sei que encontrarei as condições ideais para o meu estudo. Talvez, ao final das minhas descobertas, eu receba um Nobel! Ou talvez receba apenas algumas lágrimas, alguns apertos no peito, alguns... Quem sabe?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Encanto

Lá no vale do encantado,
o encanto desencantou,
quando se encantou com o Alto
e para o Alto se voltou.

Descobriu que lá no Alto,
vive o verdadeiro Encanto.
E hoje canta para o Encanto
que lá no Alto encontrou.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Alto



Subi ao alto cume
da montanha mais alta,
em busca do Perfume que exala
do alto das nuvens mais altas.

Procurava nas alturas
um altar pra Te respirar
e estavas bem aqui, tão Alto,
nas alturas do meu pensar.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Amigo

De braços dados contigo,
querido amigo,
enfrento o tenebroso abismo,
para os incautos, um atrativo.

Após um profundo suspiro,
o salto eu arrisco,
no rosto um sorriso
e no peito um alívio.

Descubro que voar eu consigo,
com as asas do amigo,
por cima do perigo
e das garras do inimigo.

Na direção do Infinito,
no ar eu prossigo,
com o coração tranquilo
nas asas do amigo.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Discernimento (Quebra-cabeça)

Muitas peças sobre a mesa,
frutos das Mãos da Suprema Beleza.
Nada que impeça uma humana proeza,
com o Auxílio Divino da Divina Esperteza.

Uma passagem, uma música,
uma Missa, uma reza.
Minúsculas gotas da Infinita Represa,
derramadas em doses de sagrada clareza.

E de posse de tais singelas surpresas,
plantadas por Vossa Magnífica Alteza,
aqui prosseguimos, quebrando a cabeça,
até que a Graça desça e a Verdade enfim apareça.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Loucura

Atenção! O Louco está à solta! E vem despejando loucamente água e sangue que jorram, incessantemente, do seu Louco Coração transpassado.

Fujam, fujam ao encontro dEle, o mais rápido que puderem! Corram! Não sejam loucos ficando exatamente onde estão! Não há loucura maior do que a de permanecer estancado em uma vida de loucuras! Desviem das loucas e barulhentas sirenes das ambulâncias encardidas que tentam barrar este louco encontro!

Corram, corram! Por que ainda estão aí parados, lendo? Já não estou mais aqui escrevendo estas palavras! Já foram escritas! Por agora, estou nos braços dEle! Já corri! Fugi! Fui ao encontro dAquele que saiu do hospício da vida e adentrou no Divino Hospício da Eternidade, rasgando para sempre a negra camisa de força da morte. Levantem-se!

E quando acharem-nO, abracem-nO, beijem-nO, adorem-nO! Oh, Santa Loucura! Aprendam com Ele a louca arte que é o Amar!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Resistência

Chegaste mais uma vez, oh Noite, e faz tão pouco tempo que tu embora foste.

Logo agora em que me banhava com o Sol, sem nenhuma proteção, pois queria enfeitar-me com a mais pura Insolação.

Por que voltaste tão rápido, oh deserto tão árido?

Se foi por saudades minhas, saibas que saudades de ti não tinha.

Se foi para educar-me, saibas que estou de férias e não quero por agora estudar.

Se foi para namorar-me, sinto muito, já estou enamorado, procure um outro par.

E se foi para escurecer-me, desculpe, volte outro dia. E volte de dia, para que o Sol possa conhecer-te.