Caminho com dificuldade. Não devido às pedras e os espinhos que encontro na estrada. Mas devido ao grande volume que se encontra em meus bolsos. São sementes. Muitas sementes! Todas trazidas lá do Celeiro, onde há sacas e mais sacas de sementes. Uma fonte inesgotável de sementes. Uma riqueza sem fim!
Constantemente vou lá. Encho os meus bolsos e saio por aí, a semear. É a minha função. Minha missão. Carrego tanto os bolsos que fico assim, cambaleante, lento. E à medida que vou andando, vou lançando-as nos campos, uma a uma.
E são sementes de todos os tipos. Não as escolho. Algumas se tornam poemas, que crescem, crescem e tomam toda uma folha de caderno. Outras, de tão poéticas, não se contentam apenas com folhas de papel e ganham os ares. Tornam-se músicas. E embora seja redundante, é bom frisar que se tornam músicas com poesia! É, tem que ter poesia. Música sem poesia é como pirão sem farinha, não passa de caldo! E caldo sem tempero. Água e sal, como uma bolacha, que só enche bucho, não alimenta! Encher ouvidos não basta! Tem que preencher corações! Outras, levadas pelo vento aos mais distantes palcos, tomam forma e tornam-se esquetes, peças. São sementes teatrais que encantam, antes, os corações dos divinos artistas, para depois encantar os corações espectadores.
Há também aquelas que não foram semeadas, infelizmente. Talentos enterrados nos bolsos do esquecimento e do desleixo. Secaram com o tempo. Somos falhos. Uma ou outra se perde. E o mais duro é saber que um ou outro coração também pode perder-se porque não recebeu aquela determinada semente. Mas não devemos desanimar. Devemos aprender com os erros e confiar na Misericórdia do Dono do Celeiro.
E quando as sementes findam e os bolsos estão vazios, ah, agora sim! Posso correr livremente! Mas não corro! Não nasci para ficar correndo por aí! Dirijo-me ao Celeiro em busca de novos grãos. E já estou precisando de um novo uniforme de trabalho, com bolsos maiores. Há muitos poemas para escrever, muitas músicas para criar, muitas peças para formar, muitos campos para plantar, muitos corações a alcançar.
"...e saiu o semeador semeando a sua semente..."
ResponderExcluirUm texto simples e convidativo, Voltarei outras vezes para recolher alguns grãos de semente.
Também passo muitas vezes no celeiro mas nem sempre carrego as sementes certas.
É necessário levar sempre as sementes que nascem neste tempo e que se reproduzam com naturalidade.