quarta-feira, 27 de junho de 2012

Galo

Acordei ao som
de galo maior
com sétima.
Nota criada
pela Poesia,
cheia de penas
e de cantos,
no silêncio
amanhecente
da madrugada.
Nota feita
para separar
o dia da noite,
e os sonhos
dos encantos.

Torneira

Em gotas de conhecimento
se esvai o livro torneira,
lavando dos olhos leitores
a ignorante cegueira.

Em livro

Um livro me torno
quando em livro me lavo,
para que outro se torne
quando em livro me ler.

Quatro patas

Quatro patos
entre quatro patas.
Quatro partes
de um Amor
que não se reparte.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Balança

A desmedida
da Poesia
contrapesou
minha balança.
Fiquei balançado.

Solidão

Quer entrar, Solidão?
Sinta-se a vontade,
a porta está aberta.
Entra e senta na poltrona
mais confortável.
Abra a janela,
sem cerimônias.
Hoje corre uma brisa afável.
Destas de beijar
o rosto da gente,
amigável.
Senta e aguarda
o meu retorno,
que será breve.
Fui até a venda,
comprar algo
do teu agrado.
E enquanto isso,
curte a companhia
da tua própria presença,
tão ausente.
Volto em dois tempos,
ou talvez três.
Depende da brisa,
que ganhei de presente.

Vinda

Sua vinda 
me provocou
um verso:
Revivi ao te ver.

domingo, 24 de junho de 2012

Livramento

Um livro
livrou-me
de mim.
Do meu
antigo sonho
de ser bandido.
Agora quero
simplesmente
ser livre,
ser lendo,
ser livro.

Ação

Inspiração.
Expiração.
Transpiração
em disfunção
da razão.
Doce sensação
movida por
uma santa
motivação.
Loucura aos olhos
sem emoção.
Sublime benção
que se revela
em uma simples
ação.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Unidas

Mãos amigas
unidas
em prol da vida.
Pequenos atos
das grandes formigas.

Peso

Uma soma resoluta
de dissabores
me assoma.
E me assombra,
fazendo pesar
os sonhos,
em pesares.
Pesasonhos.
Pesadelos.
Pesados momentos
em pensamentos,
quando acordo.
Pesamentos.

Livres

Em passos livres,
sobre livros pontes,
vamos seguindo
sem amarras,
aos montes.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Abismo

Ouvi rumores do abismo.
Qualquer coisa
sobre deliciosos sabores,
escondendo rios
de incontáveis dores.
Uma falsa beleza,
cheia de horrores,
que encanta marinheiros
cansados de dissabores.
Primorosos caprichos
de soturnos primores,
que naufraga navios
e os seus condutores.

Dobráveis

Admiráveis
e inquebráveis,
somos todos
dobráveis.
Graças ao Amor!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Aurora

A Aurora me alvejou.
Fiquei da cor
de amanhecer.
Amanhecido,
alumiado,
raiado.
Cantado pelos
galos despertantes,
que despertaram
junto com o Sol
que estava posto.
Pressuposto.
Claridade suposta
na noite antecedente,
desertificante,
escurecente.

Obra

A obra
sem fé
é torta.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Gramática

Armei uma arapuca
no meu coração,
pra pegar palavras à toa.
Peguei três
e fiz uma frase:
“Deus é Amor.”
Um verbo
e dois substantivos.
Ou seriam dois verbos
e um substantivo?
Ou talvez três Verbos?
Dúvidas gramaticais!
Respostas celestiais:
"Deus" é Verbo.
"é" é Verbo.
"Amor" é Verbo.
A Gramática do
céu é simples.
Nós é que
gostamos de complicar!
O fato é que
o Verbo fez-se carne
e gramaticou entre nós.

Músico

Músico:
Homem
fazedor
de borboletas.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Latejo

Latejados sonhos
de entrevadas mentes,
ladeados por razões
um tanto quanto
não condizentes.
Suspiros matinais
em um trânsito
incoerente,
passando
entre passantes,
entrementes.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Raro efeito

* A Amanda.

Ambiente rarefeito,
um raro efeito
experimentado
em uma
transcendente
experiência,
movida não por
transcendentes meios,
mas pela via
mais pura e simples,
como um beijo.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Desfeto

Fetos
afeitos
a afetos.
Fecundados.
Feitos
em um ato
sem fé.
Infeliz.
Afetados
da mesma
forma,
desfeitos,
desfetos.
Fato!

sábado, 9 de junho de 2012

Bocados

Um bocado de bocas
e um punhado de punhos,
entrelaçados ao som
de um musicado de músicas,
misturados em um
sonhado de sonhos
que se sonha
num balaio de balas.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Licença

Abri a porta dizendo:
Com licença, Poética!
Passei o lápis na folha
e na imaginação.
Escrevi errado,
fazendo certo.
Seguindo as normas
da gramática miúda.
Licenciatura plena,
poética,
adquirida em meio
às pequenezas da Vida.
Aquelas que estão
fora da vista,
escondidas dos olhos grandes.
Cegos de gordura.
Poesia magrinha,
à base de Pão
e Água,
licenciada.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Corpus

Encorpado
em cor alva.
Transubstanciado,
transubstancialma.
Solúvel em bocas,
preparadas
ou não,
desejosas por um
encontro,
um alento.
Sustento.
Solúvel,
solícito
e salutar.
Um cem por
cento de tudo,
inclusive de Homem
e de Deus.
Corpo,
Sangue,
Alma
e Divindade,
conjunto pertencente
ao mundo dos irracionais,
pois não cabe
entre o “r” e o “o”
da razão.
Em latim,
é Corpus.
Em mim,
é Corpo,
do Cristo.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Pescaria

Passei sete dias
e sete noites
sentado numa pedra,
na beirada da lagoa,
caçando palavra.
Armei uma armadilha
e peguei sete coisas:
Três lambaris
e o resto foi de procurado.
Os lambaris,
devolvi a lagoa.
Com o procurado,
fiz quatro versos à toa.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Beleza

* Ao projeto Recado Social.

E a Beleza fez-se carne
e habitou nas ruas
escuras da Vida.
Entre nós,
bem próxima,
distanciada pelos
cordões da ignorância
nossa de cada dia.

Beleza que ninguém toca,
mas que tem talento pra tocar.
Beleza que cata e que canta.
Beleza que escreve,
colocando no papel
o seu verdadeiro encanto.

Beleza que tem muitos dons,
pois é naturalmente bela,
ainda que não possua roupas novas,
calçados novos,
oportunidades novas.

Beleza que ninguém vê,
mas que está diante de você.
Seja lendo uma poesia,
seja dormindo na rua fria,
é a Beleza de Deus
que se faz transparecer.

Saleiro

No meu terreiro
plantei a Poesia.
Nasceu um
pé de Salgueiro.
Pensei que fosse
dar pé de Açucareiro.
Vai entender!
Poesia se dá com sal.
Cresce mais rápido,
chorada,
temperando a pressão.
Açúcar é com abelha
e cana caiana.
Tem de ruma por aí.
Sal só no mar.
E no meu terreiro,
pra Poesia brotar.

domingo, 3 de junho de 2012

Passantes

Passarinhos.
Passam rios.
Passo frios.
Assovios.

"Cá" é uma nota
que fica bem aqui.
Difrente do "Lá",
que fica bem acolá.

De lente

Poesia
a gente
enxerga
de lente,
e de lento.