sexta-feira, 29 de abril de 2011

Ressurreição

Após o último suspiro, após a entrega final, eis que ela apareceu, trajando o seu velho manto negro, rasgado pelas unhas do tempo, seu fiel companheiro. Portava consigo sua tão conhecida foice. Afiadíssima! Assistira todo o sofrimento de camarote, aguardando calmamente a sua hora. Aproximou-se da Cruz e, tomando o Homem pelo pescoço, levou-O às profundezas de sua morada.

Sem reagir, o Homem deixou-se conduzir a tenebrosa mansão. Lá chegando, não fez alarde, mesmo reconhecendo muitos dos seus. Sentou-se numa velha poltrona e começou a contar parábolas às miríades e miríades que ali moravam. Era uma sexta-feira, triste e escura. No sábado, continuou seu ofício de contador de histórias, atraindo para Si a atenção de um número cada vez maior de condenados. 

Tudo transcorria tranquilamente nas moradas da Morte, até que, na madrugada do domingo, algo inesperado aconteceu. O Homem, que dormia um sono profundo, foi acordado por uma voz altissonante. Era o Pai, chamando-O. Obediente, como sempre, levantou-se e viu que suas vestes resplandeciam. Era um brilho tão forte que despertou toda a casa. As portas do recinto tombaram, abaladas por um grande tremor, e o Homem encaminhou-se para fora. Todos aqueles que ouviam suas histórias, seguiram-nO. A anfitriã, em desespero e cega pelo brilho intenso, esbarrou na única coluna que sustentava a cumieira da velha mansão, que veio abaixo. 

Assim, a tenebrosa foi soterrada por seu próprio teto, juntamente com todas as cadeias que prendiam os Filhos daquele Homem, o Homem que venceu a Morte.