quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Outra pessoa

As pessoas querem que eu seja uma outra pessoa. Mas como ser uma outra pessoa se sou esta pessoa? Não posso ser outra pessoa. Sou feliz sendo esta pessoa. Acho que as pessoas não são felizes sendo as pessoas que são, por isso querem que as outras pessoas sejam outras pessoas. Ah, pessoas, como deve ser difícil viver querendo ser outra pessoa. Como deve ser difícil jogar no lixo o molde da Criação. Molde único. Molde pessoal. Molde de ser pessoa. Não quero isso pra mim.

Quero apenas ser renovado todos os dias, sem deixar de ser quem sou, por Aquele que consegue ser três Pessoas. Ah, e que Pessoas! Pessoa Criadora. Pessoa Salvadora. Pessoa Santificadora. Eu, primeira pessoa do singular, pessoa criatura da Criação, quero apenas acolher a graça do ser, para que, sendo quem sou, possa vir a ser imagem e semelhança dAquele que É.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Fila









Eis a fila
Fila dos Filhos
Fila dos Irmãos
Fila dos Cristãos
Fila da Salvação.

Antes, a fila da Confissão
Fila da Reconciliação
Fila do Perdão
Agora, a fila do Encontro
E que Encontro!

E vai andando
Lentamente
Pés no chão
Cabeças no Céu
Corações nEle, dEle.

A música tocando
Docemente
Olhos abertos
Olhos fechados
Mãos em ombros.

Chegou a hora
Coração palpitante
Ministro à frente
E Ele, ah, Ele!
O Corpo de Cristo!
Amém!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Murmuração

Não, não dá. Vou desistir. As filas estão imensas! E por que fila? Não tem outro jeito? Por que não vem até nós? Detesto filas. Ainda mais quando são assim, enormes. E são duas! A da direita? Ou a da esquerda? Qual escolho? Ah, não quero nenhuma! Quero ir embora! Não, quero ficar. Ir embora nesta hora não me daria paz. Chegaria em casa arrependido. Não quero fazer algo que me leve ao arrependimento depois. Já me arrependi de tantas coisas nestes últimos dias. Por sinal, foram estes arrependimentos que me ajudaram a conquistar o direito de estar aqui. Vou ficar. E se eu fingir que estou sentindo alguma dor e tentasse tomar a frente das pessoas? Não, que feio! Também me arrependeria por isso. Me arrependo até de pensar nisso. Desculpa, Senhor.

Tá bom, escolho a da esquerda. Ei, por que a da direita está andando mais rápido? Escolhi a fila errada, como sempre! Essa fila não anda? Deve ser aquela mesma velhinha da semana passada. Ela demora muito! Deveria existir uma fila preferencial, só para velhinhos. Não, acho que não é ela. Nossa, a fila tá tão grande que não consigo nem ver quem está lá na frente! Por que as pessoas demoram tanto? É tão fácil! Tão simples! Chega, recebe e pronto! Sai da fila! Ah, meu Deus, o que estou fazendo? Estou murmurando! Até aqui, Pai! Que miséria essa minha! Murmurar é pecado. E agora? Pequei, Senhor. O que fazer? A fila anda. Já começo a escutar o sacerdote anunciando o Teu Corpo. Devo prosseguir? Devo dizer o tão esperado "Amém" e Te receber? Ah, Jesus, que dúvida! Por que murmuro tanto? Jesus? Pode me responder? Nossa, esse padre é tão antipático!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Chão

É, dessa vez demorou, mas veio. A queda veio. Pois é, caí. De novo! E que bom que caí, pois quando caio, me aproximo do chão. E no chão, percebo que não é bom estar no chão. De pé, não temos esta percepção. Somente quando estamos lá, com o nariz no chão. Nossa, como é ruim o cheiro do chão! Mesmo os mais limpinhos, recém-perfumados com aqueles produtos de limpeza de cores chamativas. Aqueles com cheirinho de lavanda.

Não nasci pra ficar com o nariz no chão. Ninguém nasceu pra ficar com o nariz no chão. Somente os cachorros nasceram pra ficar com o nariz no chão. Não sou um cachorro. Sou um homem. Sou filho do Homem. E assumindo essa condição, vou me levantar. Vou tirar o nariz do chão. Vou voltar a ficar de pé. Como? Ah, confissão! Reconciliação! Salvação! Chão? Não, não preciso dessa rima. É na Salvação que essa história termina.

Às Paredes

É, paredes, o dia chegou ao fim. É hora de partir. E digo: Adeus! Ah, Deus! Bendito seja pelas paredes! Acho que foi por isso que o Senhor fez o homem do barro. Para que fosse semelhante às paredes. Paredes que me fazem companhia, que me acolhem, que me entendem. Agora, no derradeiro momento da minha presença, me volto a vós, paredes, e me derramo em despedidas. Ansioso por ir, pois estou cansado. Vou ao encontro de outras paredes, as paredes do descansar. Amanhã, estarei aqui, pra me cansar. Novamente estarei diante de vossa companhia e, no derradeiro momento do amanhã, direi: Adeus! Ah, Deus!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Parto










Minha cabeça está doendo
Serão os espinhos?
Não, esta coroa não é mais usada
Foi vencida por Aquele que a usou
É uma dor diferente
Dor que não dói
Dor de parto.

É a dor da idéia sendo gestada
Tomando forma no ventre da criação
Sendo moldada pelo Criador
Pelo Espírito Santo inspirador
Ele que é o Pai e o Médico
Oleiro exímio
Obstetra sem igual.

Ela vem vindo
E vem sem esperar nada
Só quer nascer
Ser posta pra fora
Já está pronta, formada
Fruto da Graça
Semeado na cabeça humana.

As contrações aumentam
Ela já está em posição
Caneta e papel na mão
Está saindo, está saindo
Força, força
Vai nascer, vai nascer
Nasceu!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O Homem de Barro

E eis que tudo estava criado. Opa, tudo não. Faltava uma planta. Uma planta não, um bicho. Um bicho não, uma coisa. Uma coisa não, um... Bem, não podia descansar, pois estava incomodado com a ausência de uma criatura. Mas o que seria? Deve ter olhos, pra poder contemplar tudo o que foi criado. Deve ter ouvidos, pra que possa Me escutar. Deve ter boca, pra que possa conversar Comigo. Deve ter pernas, pra que possa andar por toda a Terra e explorar os confins da Criação. Deve ter braços e mãos, pra poder cuidar de tudo. Deve ter inteligência, pra discernir o certo e o errado, pra criar e pra governar. E, claro, deve ter um coração, pra que possa Me amar e amar todas as criaturas - Assim pensou o Criador. Retirou um espelho do bolso e então fitou Sua Sagrada Imagem. Já sei! - Disse o Onipotente - Farei algo à minha imagem e semelhança! Um amigo, um filho! O esplendor da Criação! A minha obra-prima! Mas como o farei? Que substância utilizarei?

Como um excelente oleiro que É, juntou um pouco de barro e começou a modelar. Ao final, soprou nas narinas da forma criada o sopro da Vida e disse: Terás no teu íntimo a minha essência, para que Eu esteja sempre em ti e tu sempre em Mim. E quando quiseres ter Comigo, buscar-Me-ás, em primeiro lugar, dentro do teu coração. A criatura então abriu os olhos e levantou-se, fitando o Criador, que disse: Do pó tornei-te homem e por nome te chamo Adão. E pra completar tua feitura, dar-te-Ei um presente: recebe a liberdade, o livre-arbítrio, pra que não se sinta preso às minhas vontades. Mas usa-o com sabedoria!

Contemplando a obra acabada, olhou pra uma das costelas da criatura e disse: Hum, tive uma idéia!
Mas aí é outra história...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Jesus Aprontando

galo

O Sol raiando
O vento soprando
O orvalho pingando
Os pássaros gorjeando
É Jesus aprontando!

O gato miando
O cachorro acordando
O galo cantando
As galinhas ciscando
É Jesus aprontando!

O mato perfumando
O gado pastando
A chuva ameaçando
A raposa se casando
É Jesus aprontando!

O sabiá sabiando
A manga amarelando
O caju avermelhando
O bicho-de-pé coçando
É Jesus aprontando!

A tapioca assando
O café cheirando
O bebê chorando
A mãe acalentando
É Jesus aprontando!

O sino badalando
O padre chamando
Os fiéis andando
Minha vó rezando
É Jesus aprontando!

Eu despertando
Da rede levantando
O corpo esticando
E tudo contemplando
É Jesus me amando!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O Telefone de Jesus

Do Gênesis ao Apocalipse
Da Criação à Revelação
Da Introdução à Conclusão
Livro por livro
Capítulo por capítulo
Versículo por versículo
Termino a leitura
Cansado e confuso
Sem encontrar aquele número
Que tanto procuro.

Nos Jardins, conversei com Adão
E com Noé, na sua embarcação
Na Caldéia, perguntei a Abraão
E a Isaac, após a sua salvação, de um punhal que o pai tinha na mão
Com Jacó não me foi permitido, pois chorava o filho perdido
E José, o menino perdido, encontrei-o no Egito, do faraó um protegido
Não pôde ajudar, pois tinha como missão, um sonho para interpretar
Com Moisés fui falar, mas o homem era gago e não quis demorar, pois estava em fuga com o seu povo, rumo ao Mar
Josué não me deu atenção, pois marchava com uma trombeta na mão, a fim de derrubar os muros de uma grande região
Lutei com Gedeão e com Sansão, a fim de arrancar-lhes uma simples informação, mas fui vencido pela coragem e pela força de crias de um leão
Recorri a Heli e a Samuel, mas o primeiro já havia morrido e o último estava esbaforido, em busca do rei escolhido
Saul, após sua coroação, me disse que perdera o número e com o Homem já não tinha comunicação
Davi, de menino minguado a guerreiro invejado, me deixou falando solitário, pois ao trono fora chamado
Salomão, com sua divina sabedoria, não deu sua opinião, pois ocupava-se com o grande templo, que estava em construção
Isaías, Ezequiel, Jeremias e Daniel, recorri, sem sucesso, àqueles que mais telefonavam para o Céu.

Então fui além e no Novo adentrei
Dei de cara com um tal Herodes e pra este não perguntei,
Pois andava à procura dAquele, do nosso Menino Rei
Encontrei os Três do Oriente, que também eram reis
Me indicaram uma estrela e seguiram sua partida
Pois de número não sabiam e sua missão fora cumprida
Pela Galiléia então vaguei
Cegos, prostitutas e cochos interroguei
Fiscais do imperador e até os empregados do rei
Os fariseus eu evitei, pois estes não davam valor
Aquele que é o nosso Salvador
Os Doze então encontrei
E nenhum deles me disse o que não sei
Os discursos de Pedro escutei
Com as cartas de Paulo me deparei
E nas visões de João finalmente cheguei.

Terminadas as sagradas escrituras
Recorri, em oração, à Mãe cheia de Graça e de Ternura
Pra perguntar, cheio de esperança, sobre o objeto da minha procura
A Mãe, com candura, me disse que de número não lembrava
Pois está sempre com o Filho e, por isso, pra Ele nunca telefonava.

Agora, desnorteado e sem ter a quem recorrer,
Cansado de ler e de tanto escrever
Dotado apenas da Fé que me conduz
E do Espírito que é a minha Luz
Humildemente pergunto a você:
Qual é o número do telefone de Jesus?

Maninha

* Em homenagem a minha querida irmã.












Chegou num repente
No meio da gente
Brotou como semente
No coração da gente

Criança sapeca
Menina moleca
Cresceu da noite para o dia
E escolheu a Psicologia
Como via de Cruz

Morena clara
Olhos de luz
Será ela a mãe de Jesus?

É não!
É Mãezinha do Leo
Esposa do Raphael
Karla, Karlinha
Minha Maninha
É pedra preciosa
Que caiu do Céu.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Nas asas da palavra (Minha Missão)












Pra longe eu vou
Nas asas da palavra eu vou
Sem pressa, com calma, eu vou.

E com Jesus eu vou
Sem Ele não vou
Fico em casa e acabou
Pois sem Ele nada sou.

Na frente Ele vai
Com as mãos nas rédeas Ele vai
Pois na garupa já não dá mais
Sou eu quem vai atrás.

Lançando redes, semeando campos
Carregando cruzes, ressuscitando sonhos
Nas asas da palavra nós vamos.

Jesus e a Matemática

Amanhã vou ao Céu
Vou falar com Jesus
Levando um caderno e um lápis
Uma borracha e uma tabuada
Ensinar-Lhe o pouco que sei das operações da Matemática
Pois me parece que deste assunto Ele não sabe nada.

Não falo dos logaritmos nem da raiz quadrada
Nem das potências e nem dos juros compostos
Nem dos polinômios tampouco dos números complexos
Falo dos simples cálculos aprendidos pela meninada.

Acho que na infância Ele não teve tempo
Na folga da carpintaria andava nos templos
Ensinando os sábios e os sem conhecimento
Através de parábolas e das sagradas escrituras
Que já sabia ler com tão grande desenvoltura.

Somar, Subtrair, Multiplicar e Dividir
Tais os ensinamentos que vou Lhe instruir.

Digo que não sabe e agora vou provar:
Como pode cinco pães somados com dois peixes e multiplicados por nada alimentar uma multidão?
Como pode, no caso daquela velhinha do templo, uma pessoa dar tudo o que tem e ganhar o Tudo? Até onde sei, tudo menos tudo sobra nada.
Como pode um único Cristo, na Eucaristia, se dividir em vários e todos receberem a mesma quantidade do todo?

Ah, Cristo, deixa estar
Amanhã vou te ensinar!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Homem de Pedra

Então voei
Voei e voei
Voei tanto que cansei
Então pousei
Num ombro de pedra
De um Homem de pedra
Com um manto de pedra
Braços abertos de pedra
Sobre uma montanha de pedra

Lá em baixo, uma cidade de pedra
Meninos de pedra
Com corações de pedra
Com sonhos de pedra
Com armas de pedra
Com balas de pedra
Vendendo pedras

Ah, Homem de pedra!
Tende piedade
Dos teus filhos de pedra.

Os Sessenta do meu Pai

* Em homenagem aos 60 anos do meu pai, completos no dia 02/11/2010.












Ah, como Deus é bom!
Da noite fez o dia
Do Cristo a Eucaristia
Da Graça fez Maria
E de uma Maria fez meu Pai.

Da serra, um rebento
De cassaco, o sustento
Das galinhas, o alimento
Da propaganda, o conhecimento
Aprendendo tudo sobre medicamento.

De Altemar, uma cantiga
Da pressão, uma amiga
Da farmácia, uma vida
De um cantinho, o coração.

Pra Mundoca fez um filho
Pra Fátima um marido
Pra Karla um querido
E pra mim um amigo.

Ah, se Deus permitir!
Se este seis virar de ponta pra baixo
E um nove se tornar
Sessenta já não será
Mas noventa, que alegria, meu Pai completará!

Conversa a Quatro

Jesus, como sempre, falante.
E falava de tudo, de um jeito todo especial.
Afinal, Ele é a Palavra em pessoa.
O Verbo, o Substantivo.
O Sujeito e o Predicado.
O Objeto Direto e o Indireto.
O Início e o Fim.

Sua voz chegava aos lugares mais íntimos do coração,
Transformando tudo,
Renovando tudo.
Vez ou outra fazia uma pausa.
E um silêncio profundo reinava.
Às vezes é tudo o que precisamos ouvir: o Silêncio.
Silêncio que também transforma, que também renova.
Tudo é graça!
Mas logo retomava o discurso e a conversa continuava.

A Mãezinha babava ouvindo o Filho falar.
Terço na mão, manto azul, véu branco como a neve.
Que linda!
Um cheiro de rosas no ar.
Cheiro de mãe.
Cheiro da Mãe.
Quando falava, também encantava.
Terá o Filho aprendido com Ela?
Ou foi Ela que aprendeu com o Filho?
A cronologia de Deus às vezes confunde.
Afinal, o tempo dEle é muito diferente do nosso.
E Ela doce, meiga.
Tão rainha e tão vassala.
Contrastes do Céu.
Só Ela interrompia o discurso do Filho,
Pra interceder por alguem além de nossa conversa.

Meu Anjo, ao meu lado, com os olhos fixos no Senhor.
Que exemplo de Adorador!
Quase não falou.
E quando voltava-se para a Mãe,
Fazia uma reverência digna de um bom súdito.
Amigo fiel,
Mensageiro de Deus.
Não saiu do meu lado um só minuto.

E eu? Ah, eu!
Era só alegria, diante de tão elevada companhia.
Não sabia se falava ou se só ouvia.
Esquecendo de ser Marta, aprendendo a ser Maria.
Desejando a graça da Sabedoria, do Amor e do Perdão, que emanava de tão Santa Reunião.

E a você faço um convite.
De desfrutar também de tão sagrada conversação.
Na Igreja mais próxima ou na capela ao lado.
No vazio da sala ou no escuro do quarto.
Em todo canto é possível uma conversa a quatro.

A Borboleta e a Flor

* Em homenagem a duas pessoas muito especiais.












Haverá dupla que inspire mais amor?
A Borboleta e a Flor.
O que seria da Borboleta sem a Flor?
O que seria deste Poeta sem a Borboleta?
O que seria do mundo sem as duas?

Ah, se existissem mais Flores!
Existiriam mais Borboletas.
Existiriam mais Poetas.
Existiriam mais Amores.

Folha Seca

Eu, semente pequena que era, fui lançada à terra por uma Mão maior do que a minha compreensão. A terra me acolheu e no seu seio fiz morada.

A Mão que me lançou, lá do alto chorou e molhou a minha casa. Quando menos esperei, eis que eu brotara.

Veio mais choro, veio o Calor, veio o Vento. Os anos passaram e fui crescendo. Logo me tornei maior do que o menino, do que o homem, do que a casa. Fiquei tão alta que, se pudesse esticar minhas pernas, poderia tocar o Céu. Acho que foi de lá que eu vim. Mas não posso esticá-las. Estou presa à terra que me acolheu. As adversidades do tempo e da vida endureceram a minha casca, me tornando ainda mais presa.

Hoje, adulta que sou, sem esperar mais nada da vida, fui surpreendida: eis que veio um Vento e arrancou de mim um pequeno pedaço, uma folha, seca pelo calor dos últimos dias. A folha foi então levada a uma pessoa que se abrigava à minha sombra, tocando-a. Ao tocá-la, vi a mesma Mão que me lançou, lançando sobre ela a Graça que me fez crescer. Assim, surge em mim uma nova esperança, a de que esta pessoa, tocada por minha folha e pela Mão que me criou, estique as pernas que não posso esticar, sendo folha seca para a outros poder tocar e, no fim, ao Céu poder chegar.

"Como folha seca quero ser para Ti Senhor
Folha livre e dependente do vento para seguir.
Folha que não luta e se deixa levar
Assim quero ser Senhor
E em Ti me lançar."

A Caixa do Nada

Segundo a opinião de algumas mulheres, a cabeça do homem é constituída por caixas. Dentre estas, existe a Caixa do Nada. E esta existência é facilmente comprovada. Quantas e quantas vezes nós homens, ao sermos questionados por nossas digníssimas sobre o que estamos pensando em um determinado momento, ficamos sem resposta? E não é porque estamos querendo esconder pensamentos indevidos. Realmente não sabemos o que estávamos pensando. Eis aí a Caixa do Nada! Local onde nós homens gastamos algum tempo de nossa vida, sem que percebamos.

No segundo Retiro Vocacional de 2010, da Comunidade Católica Recado, da qual faço parte, descobri, durante um momento de deserto, algo que me surpreendeu. Decidido a usar e abusar da referida caixa, por estar cansado de tanto pensar e escrever, fui para o momento que nos foi direcionado. Sentado em uma cadeira, debaixo de uma grande árvore, destampei a caixa e mergulhei de cabeça (literalmente). Eis que lá dentro, também sentado em uma cadeira, encontro um outro homem, Jesus! Ele sorriu pra mim e, carinhosamente, tomou o meu caderno, minha caneta e anotou tudo o que eu precisava saber naquele momento.

Uma pena minha digníssima não estar no retiro. Pois se ela estivesse e viesse me perguntar: O que você estava pensando? Eu de pronto responderia: estava pensando em Jesus!

Bendito seja Ele por nos presentear com a Caixa do Nada!

"Senhor, vós me perscrutais e me conheceis, sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto. De longe penetrais meus pensamentos." (Salmo 138, 1-2)

"Poderá um homem se ocultar de tal modo que eu o não veja? - oráculo do Senhor.
Porventura não enche minha presença o céu e a terra? - oráculo do Senhor." (Jeremias 23, 24)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Deserto

A noite é escura, o vento é frio. Areia por todos os lados. Nada de água, nada de plantas e nem de nenhum ser vivente. Uma solidão profunda. Estou de joelhos, de cabeça baixa, esperando. Estou triste, angustiado? Não. Estou em paz. Apesar de não vê-los, sei que estão ao meu lado, me sustentando. Ele e Ela. O Filho e a Mãe. Quando chegar a hora, ficarei de pé, levantarei a cabeça. O Sol nascerá, brilhando muito forte, anunciando um novo amanhecer. Verei então o grande mar que a graça de Deus derramou atrás de mim.