terça-feira, 2 de novembro de 2010

Folha Seca

Eu, semente pequena que era, fui lançada à terra por uma Mão maior do que a minha compreensão. A terra me acolheu e no seu seio fiz morada.

A Mão que me lançou, lá do alto chorou e molhou a minha casa. Quando menos esperei, eis que eu brotara.

Veio mais choro, veio o Calor, veio o Vento. Os anos passaram e fui crescendo. Logo me tornei maior do que o menino, do que o homem, do que a casa. Fiquei tão alta que, se pudesse esticar minhas pernas, poderia tocar o Céu. Acho que foi de lá que eu vim. Mas não posso esticá-las. Estou presa à terra que me acolheu. As adversidades do tempo e da vida endureceram a minha casca, me tornando ainda mais presa.

Hoje, adulta que sou, sem esperar mais nada da vida, fui surpreendida: eis que veio um Vento e arrancou de mim um pequeno pedaço, uma folha, seca pelo calor dos últimos dias. A folha foi então levada a uma pessoa que se abrigava à minha sombra, tocando-a. Ao tocá-la, vi a mesma Mão que me lançou, lançando sobre ela a Graça que me fez crescer. Assim, surge em mim uma nova esperança, a de que esta pessoa, tocada por minha folha e pela Mão que me criou, estique as pernas que não posso esticar, sendo folha seca para a outros poder tocar e, no fim, ao Céu poder chegar.

"Como folha seca quero ser para Ti Senhor
Folha livre e dependente do vento para seguir.
Folha que não luta e se deixa levar
Assim quero ser Senhor
E em Ti me lançar."

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